segunda-feira, 28 de abril de 2014

É preciso maqui(n)ar bem para ficar bonito na foto

Velhos preconceitos presentes hoje, mas pouco comentados, pois maqui(n)ar é preciso. 

     Nestes últimos dias fatos corriqueiros, mais corriqueiros do que gostaria, chamaram a atenção mesmo sendo pouco divulgados, talvez pela camuflagem ou pior, pela naturalidade em encará-los.

    Um jovem preso por engano, piada, um comentário infeliz, pessoas imitando um macaco, pessoas chamando alguém de macaco demonstram a excelente maquinagem, quis dizer maquiagem, que permitem uma reflexão. 

     O ator e vendedor Vinícius Romão de Souza, de 26 anos, foi preso por engano simplesmente por ser negro, ter cabelo de negro, não houve uma averiguação para comprovar a acusação e ele foi preso em flagrante.

     A apresentadora Glória Maria da Rede Globo de Televisão foi vítima de uma piadinha no Instagram quando postaram uma foto sua ao lado de amigas de trabalho. 


     
  Créditos da imagem: entretenimento.r7.com

     Uma das moradoras da Casa do BBB deste ano, chamada Franciele, fez um comentário dizendo que se não passar desodorante fica com cheiro de neguinha.

     Três jogadores brasileiros,Daniel Alves (Barcelona), Tinga (Cruzeiro/MG) e Arouca (Santos/Sp), em jogos por seus clubes foram vítimas de racismo.

     O programa Encontro com Fátima Bernardes convidou o jovem preso por engano para participar e dar entrevista no programa e este assunto do racismo e do preconceito  teve um pequeno espaço no programa. 

     Existe um discurso que diz que todos são vítimas de um sistema que ensina desta maneira, não acredito que todos são vítimas, vitimas são Vinícius, Glórias, "neguinhas fedidas" e atletas negros por este país a fora. 
     
     Quero dar um recado especial pra você moreninho, marronzinho, você que não é tão negro assim, mas que também não é branco, talvez você, em algum momento, ouviu coisas do tipo: "mas você nem é negro", "você é no máximo moreninho", "é quase branco" (essa é minha preferida). Sua cor de pele vai mudar conforme a necessidade da ocasião. Como sei disso? Advinha… Será neguinho em algumas ocasiões convenientes e também será quase branco, quase aceito em outras. Assuma-se, encontre-se e não deixe que te enganem. Se quer saber como me considero, eu sou NEGRO, filho de negra, neto de negra e bisneto de escrava liberta, daqui em diante a genealogia continua em terras africanas.  


     Não devemos colocar panos quentes, devemos cutucar, vascolejar, isso nunca foi um caso isolado é uma questão política, então temos que exigir pautas políticas, temos que exigir penas mais severas, temos que exigir respeito através da luta, não lembro um período histórico em que isso tenha sido diferente.

     Creio que o problema deveria ser trabalhado nas escolas desde muito cedo, que as punições deveriam acontecer em todos os casos comprovados de racismo e preconceito, infelizmente a esta altura do campeonato não dá mais para esperar a compreensão e a aceitação de que não há diferenças entre cores, peles, narizes, que isso não demonstra de forma alguma capacidades inferiores ou superiores. O lindo sermão de Luther King não passa de um sonho, lindo sonho, a realidade é cruel, pelo menos por aqui, e negros necessitam tirar 12 nas mesmas provas para serem equiparados com brancos que tiram 8. Não há dúvidas de que isso acontece! 

     Qual negrinho ou negrinha não foi vítima de preconceito? Não conheço um que nunca passou por tal situação no mínimo constrangedora, numa blitz o negrinho não tem o mesmo tratamento do branco, em alguns lugares (restaurantes, lojas), na porta de entrada vem aquele olhar de reprovação dizendo que aquele local não é para você. Já viveu isso? (risos) Quantas e quantas vezes. 

     Poderíamos chover no molhado e dizer que todos são iguais, que todos merecem o mesmo respeito, que temos que ser daltônicos quanto à cor de pele, e poderíamos ser mais poéticos também, é uma linda teoria, na prática você não passa de mais um negrinho meliante, esse adjetivo vem de brinde, suspeito sempre. 

     E tem aqueles que invocam de seu interior coisas do tipo: racismo não existe, vejam o Joaquim Barbosa, vejam o Obama, claro que racismo não existe, é só olhar a sucessão de negros nestes cargos, é a coisa mais normal do mundo ver um negro ali, não é? E quando dizem que é mérito? Hahahaha eu me divirto, sim, sim, dizem que é mérito, então na história do Ocidente só dois negrinhos foram meritórios e o resto? O resto é vagabundo, não estudou, não trabalhou, porque se tivessem feito isso teriam chegado lá como o Joaquim e o Obama, exemplos da igualdade racial. 

      Sabe, queria estar ali no cantinho, quietinho, só olhando a reunião do dia 12 de maio de 1888, vendo e ouvindo a sublime decisão de libertarem os escravos. Ah que atitude bondosa, a mão de obra agora livre da migração européia estava chegando para substituir os negros, mas claro que teriam salários, seriam livres. Você achou que seriam como os negrinhos? E no dia 13, que cena linda, a Lei Áurea é assinada todos os negros são livres, que bonito. Pergunto: foram para onde? Trabalhar com o quê? Viver do que? Sabiam ler? Sabiam escrever? Qual foi o plano da Lei Áurea para isso? Não houve né. Os negrinhos ontem eram escravos e hoje são livres, sem ter para onde ir, sem direito a nada. Era só o que faltava, ainda quererem alguma coisa, já foram libertos. Eis aqui a criação da famosa favela, foram viver de vento, ar e luz em algum canto que acharam. E de lá pra cá o que mudou? Mudou que um Joaquim ousa sair de seu cantinho para alcançar algo maior, sem ter o mesmo acesso à escola, educação ou qualquer outra coisa que os demais livres têm. 

     O que às vezes confunde as pessoas e o que não quero saber é se alguém me acha ruim ou menor porque sou moreninho ou negro, não posso e não quero entrar na cabeça desta pessoa e mudar o que ele(a) pensa, isso claro enquanto for apenas um pensamento dele(a), não quero mudar a cabeça dele(a), quero que o que ele(a) pense não me atrapalhe socialmente, não me tire direitos, entendem a diferença? O problema não é ele achar algo a meu respeito, o problema é quando isso me atrapalha socialmente, é quando isso se torna institucional e um negro deixa de ter direitos básicos negados pelo que outra pessoa pensa, isso é o que deve ser combatido, a institucionalização do preconceito.     

    Racismo! Racistas! Preconceituosos! Aqui o preconceito é institucional, é uma marca registrada do Estado e da família brasileira. 


     O que fazer? 

    Que os atletas negros e os demais abandonem o campo a cada grito de Macaco. Que a Glória venha em Rede nacional e grite, não dá mais para ficar assim.

     Tivemos também o caso do jogador de vôlei Wallace.

     Estes foram alguns casos na mídia que não receberam maior atenção além de algumas matérias e o rostinho de triste dos repórteres. Eu quero mais! Quero que sejam todos tratados iguais, que os racistas paguem por seus crimes. 
     

     Não há mais espaço para a separação, não há mais espaço para a segregação, quer ela seja racial, social, sexual, somos todos iguais nos direitos e deveres e diferentes em nossas escolhas e isso deve ser respeitado. 

     Fica aqui de forma explícita minha repugnação contra estes fatos e tantos outros que acontecem a cada dia, não seja passivo nesta situação, ensine, eduque seus filhos ,sobrinhos, alunos, etc., para que eles tenham um mundo que nós não tivemos, onde o sermão de Luther King deixe de ser sonho e vire realidade. 

     I have a dream, I have a reality.

     Que o preconceito que gera a camuflagem deixe de existir. 

    


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